A CULTURA DO QUANTO PIOR EM SOLO POTIGUAR
Ventos fortes, sol,
dunas, praias, falésias e a simpatia potiguar
acompanham os
visitantes por todo o litoral do Rio Grande do Norte.
Mas atenção: há
muito, muito mesmo a se fazer e ser
explorado fora dos
roteiros dos bugues que cortam as nossas areias e dunas...
Fotografia: Canindé Soares
A CULTURA DO QUANTO PIOR, MELHOR, ESTÁ ACABANDO
COM O NOSSO RN
Por
Paulo Araujo
Não é de hoje que o Rio
Grande do Norte está em crise, como “descobriram” os analistas de
plantão nesta semana, e o fundo do poço é o lugar, por excelência, onde
estacionamos. Há explicação para tudo, como diz o filósofo.
Levantando dados
econômicos dos outros oito estados nordestinos durante os últimos dois
meses, constatei um fato. Então, vamos a ele.
Estamos, no Rio Grande
do Norte, a muitos passos atrás de estados tido erroneamente pelo senso
comum como “menores” na região, como o Piauí, por exemplo (que acabou de
atrair quatro empresas grandes para o seu território recentemente) por
uma razão muito simples.
Nós temos, no Rio Grande
do Norte, uma necessidade quase patológica, diria mesmo esquizofrênica,
de “comemorar” o nosso fracasso, o nosso atraso, os nossos pequenos
índices, a derrocada das nossas indústrias do turismo e do petróleo, o
caos que se instalou na nossa capital e os horrores da seca no interior.
Entre poucos brasileiros uma coisa chamada auto-estima pode ser tão
baixa quanto aqui.
Sim, é verdade, por mais
louco que isso pareça. Pergunte a um pernambucano, a um cearense ou a
um baiano como está o seu estado. Nunca, jamais, em hipótese alguma,
mesmo que não haja nada a comemorar, a palavra “crise” vai fazer parte
da conversa, principalmente se o interlocutor for alguém de fora, porque
o orgulho pela terra e a auto-estima elevada desses irmãos de região é
tão forte quanto o sol que lhe cobre a cabeça, também.
Veja o exemplo: uma
novela, Flor do Caribe, exibida em rede nacional pela TV Globo e mandada
para mais de cem países pelo canal internacional, mostrando diariamente
verdadeiras pinturas do nosso litoral, não foi capaz de provocar uma
avalanche de turistas no nosso estado no mês de julho, o das férias,
sendo que a atração começou a ser exibida em março/abril.
Relembre o que Tropicaliente provocou no Ceará, Da Cor do Pecado no Maranhão e mesmo Gabriela, novela de época, no sul da Bahia.
Nada, nada que se faça
para dizer que isso aqui é lindo, maravilhoso, como realmente é,
encontra coro sincero lá no fundo da alma dos potiguares, porque fomos
sendo moldados, com o passar dos anos a, sim, dizer que aqui é lindo,
maravilhoso, mas só até a segunda página do romance. Lá no fundo, nas
conversas privadas, nos pequenos sussurros, é mais natural amplificar os
pequenos fracassos, as menores derrotas, e fingir contentamento com as
histórias de sucesso, os empreendimentos, as glórias do passado.
A decadência do bairro
da Ribeira, em Natal, é a melhor metáfora do que estou dizendo, como já
justifiquei aqui tantas vezes. Melhor gastarmos o nosso dinheiro em
Puerto Madeiro ou Coral Gables, não é mesmo?
Tudo começa, obviamente,
pelas cabeças coroadas que nos representam. Observando a cena política,
constatamos que não deve haver, em outro estado, dirigentes políticos
mais desagregados em prol do próprio estado como no nosso. Aqui, os
palanques nunca, em hipótese alguma, são desmontados. No dia seguinte a
uma eleição, os planos de governo apregoados nas campanhas somem
misteriosamente e já se começa a se pensar no próximo pleito. Uma
máquina trituradora de “projetos” entra em cena e o básico, o beabá da
administração pública fica relegado ao “orçamento”, “corte de
orçamento”, bancada de situação e oposição, marolas. E golpes de
marketing.
Agora, nessa crise
econômica atual, para nosso espanto, descobrimos que os poderes
constituídos, sim, são tão “inimigos” e “desagregados” quanto a água e o
óleo. Talvez tenham interpretado “independente” como “concorrentes” na
nossa terra. É o que tudo leva a crer.
Em linhas gerais, como
mostra o noticiário, os ataques, as ofensas, as futricas, os chafurdos,
as pequenas provocações ocupam o lugar das agendas positivas. No lugar
de união pelo todo, cada um por si. Farinha pouca, o meu pirão primeiro.
As estruturas estão todas se desmanchando, como o país inteiro tem
tomado conhecimento por meio dos principais telejornais.
Alguns potiguares, com
poder de formação de opinião, infelizmente chegam a ter “gozos”
caudalosos com essas notícias. Nem bem são veiculadas, correm para
amplificá-las nas redes sociais. Acredito que seja “lindo”, no
pensamento desses cidadãos, ver esse cenário de caos. Se brincar, abrem
até champanhe para brindar como muitas pessoas fizeram com o 11 de
Setembro. Sim, teve muita gente que fez isso – e não só no mundo árabe.
Não sabem, ao fim e ao cabo, que todos afundamos, juntos, frente à
opinião pública nacional. Como as Torres Gêmeas, viramos pó com o passar
dos dias.
Pois bem, sabe o que
acontece em outros locais? As mesmas disputas por poder existem, tal
qual como aqui, mas elas são internas e para o mise-en-scene local. Mas,
uma vez lá em Brasília, no coração do poder, os esforços para trazer
desenvolvimento e riqueza para os estados de origem dos políticos são
regra. Tente interromper a instalação de uma montadora de automóveis em
Pernambuco ou Bahia para ver o que acontece. Transfira um investimento
do Ceará para o Maranhão. Descumpra um contrato com a Paraíba…
Resultado: no Rio Grande
do Norte, na vida real, não temos um porto (como Suape, Pecem ou agora o
de Paraguaçu, na Bahia, que já conta há 35 anos com o polo industrial
de Camaçari), aeroporto, estradas duplicadas (sim, em pleno ano de 2014,
nós não temos UMA estrada com pistas duplas no nosso estado),
refinarias (sendo o terceiro maior produtor de petróleo do país!),
indústria automotiva, siderúrgica (como a gigante que vai surgir no
Ceará, ou a que fabrica todo o conjunto de catavendo de eólicas em PE),
muito menos uma produção agrícola respeitável.
Quando falo “não temos” é
no sentido econômico desses equipamentos serem minimamente
interessantes para quem procura um lugar para investir. Raciocine
comigo: se sou empresário e preciso produzir com pouco custo, onde vou
buscar ambiente propício? Onde existir condições de escoar a produção,
capisce! Se preciso de mão de obra treinada e qualificada, onde vou
encontrar?
Por outro lado, o prazer de falar mal e não apresentar soluções cai como uma pá de cal sobre tudo.
Amamos essa terra,
fazemos de um tudo para não deixá-la ou voltar à ela assim que possível,
mas é preciso muito, mas muito cotovelo de aço para abrir caminhos,
frentes, convencer os colegas da mesa ao lado que, enquanto não virarmos
patriotas verdadeiros, civilistas no sentido da palavra, cobrar de quem
de direito que tudo de bom venha e aconteça aqui (e fazermos a nossa
parte também), seremos eternamente lanternas, em tudo, de educação a
turismo, de geração de empregos a campeonato de futebol.
Os números, sempre eles,
que estão sendo revelando agora, para “assombro” de muitos, dando a
conhecer que o estado “quebrou”, que a saúde pública entrou em estado de
calamidade, que o aeroporto vai ficar pronto e não há uma rodovia
ligando-o a nada, que a praia mais famosa ainda é cenário de tsunami,
que os grande projetos anunciados nunca vão sair do papel e que o nosso
RN sofre feito tábua de bater bife são resultado, única e exclusivamente
dessa nossa “patologia” histórica de achar, lá no fundo, que quanto
pior melhor.
Pobre RN!
...fonte...
www.canindesoares.com
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