sábado, 10 de agosto de 2013

Triste realidade

A CULTURA DO QUANTO PIOR EM SOLO POTIGUAR
Ventos fortes, sol, dunas, praias, falésias e a simpatia potiguar
acompanham os visitantes por todo o litoral do Rio Grande do Norte.
Mas atenção: há muito, muito mesmo a se fazer e  ser explorado fora dos
roteiros dos  bugues que cortam as nossas areias e dunas...
Fotografia: Canindé Soares
A CULTURA DO QUANTO PIOR, MELHOR, ESTÁ ACABANDO 
COM O NOSSO RN

Por
 Paulo Araujo

Não é de hoje que o Rio Grande do Norte está em crise, como “descobriram” os analistas de plantão nesta semana, e o fundo do poço é o lugar, por excelência, onde estacionamos. Há explicação para tudo, como diz o filósofo.

Levantando dados econômicos dos outros oito estados nordestinos durante os últimos dois meses, constatei um fato. Então, vamos a ele.

Estamos, no Rio Grande do Norte, a muitos passos atrás de estados tido erroneamente pelo senso comum como “menores” na região, como o Piauí, por exemplo (que acabou de atrair quatro empresas grandes para o seu território recentemente) por uma razão muito simples.

Nós temos, no Rio Grande do Norte, uma necessidade quase patológica, diria mesmo esquizofrênica, de “comemorar” o nosso fracasso, o nosso atraso, os nossos pequenos índices, a derrocada das nossas indústrias do turismo e do petróleo, o caos que se instalou na nossa capital e os horrores da seca no interior. Entre poucos brasileiros uma coisa chamada auto-estima pode ser tão baixa quanto aqui.

Sim, é verdade, por mais louco que isso pareça. Pergunte a um pernambucano, a um cearense ou a um baiano como está o seu estado. Nunca, jamais, em hipótese alguma, mesmo que não haja nada a comemorar, a palavra “crise” vai fazer parte da conversa, principalmente se o interlocutor for alguém de fora, porque o orgulho pela terra e a auto-estima elevada desses irmãos de região é tão forte quanto o sol que lhe cobre a cabeça, também.

Veja o exemplo: uma novela, Flor do Caribe, exibida em rede nacional pela TV Globo e mandada para mais de cem países pelo canal internacional, mostrando diariamente verdadeiras pinturas do nosso litoral, não foi capaz de provocar uma avalanche de turistas no nosso estado no mês de julho, o das férias, sendo que a atração começou a ser exibida em março/abril.

Relembre o que Tropicaliente provocou no Ceará, Da Cor do Pecado no Maranhão e mesmo Gabriela, novela de época, no sul da Bahia.

Nada, nada que se faça para dizer que isso aqui é lindo, maravilhoso, como realmente é, encontra coro sincero lá no fundo da alma dos potiguares, porque fomos sendo moldados, com o passar dos anos a, sim, dizer que aqui é lindo, maravilhoso, mas só até a segunda página do romance. Lá no fundo, nas conversas privadas, nos pequenos sussurros, é mais natural amplificar os pequenos fracassos, as menores derrotas, e fingir contentamento com as histórias de sucesso, os empreendimentos, as glórias do passado.

A decadência do bairro da Ribeira, em Natal, é a melhor metáfora do que estou dizendo, como já justifiquei aqui tantas vezes. Melhor gastarmos o nosso dinheiro em Puerto Madeiro ou Coral Gables, não é mesmo?

Tudo começa, obviamente, pelas cabeças coroadas que nos representam. Observando a cena política, constatamos que não deve haver, em outro estado, dirigentes políticos mais desagregados em prol do próprio estado como no nosso. Aqui, os palanques nunca, em hipótese alguma, são desmontados. No dia seguinte a uma eleição, os planos de governo apregoados nas campanhas somem misteriosamente e já se começa a se pensar no próximo pleito. Uma máquina trituradora de “projetos” entra em cena e o básico, o beabá da administração pública fica relegado ao “orçamento”, “corte de orçamento”, bancada de situação e oposição, marolas. E golpes de marketing.

Agora, nessa crise econômica atual, para nosso espanto, descobrimos que os poderes constituídos, sim, são tão “inimigos” e “desagregados” quanto a água e o óleo. Talvez tenham interpretado “independente” como “concorrentes” na nossa terra. É o que tudo leva a crer.

Em linhas gerais, como mostra o noticiário, os ataques, as ofensas, as futricas, os chafurdos, as pequenas provocações ocupam o lugar das agendas positivas. No lugar de união pelo todo, cada um por si. Farinha pouca, o meu pirão primeiro. As estruturas estão todas se desmanchando, como o país inteiro tem tomado conhecimento por meio dos principais telejornais.

Alguns potiguares, com poder de formação de opinião, infelizmente chegam a ter “gozos” caudalosos com essas notícias. Nem bem são veiculadas, correm para amplificá-las nas redes sociais. Acredito que seja “lindo”, no pensamento desses cidadãos, ver esse cenário de caos. Se brincar, abrem até champanhe para brindar como muitas pessoas fizeram com o 11 de Setembro. Sim, teve muita gente que fez isso – e não só no mundo árabe. Não sabem, ao fim e ao cabo, que todos afundamos, juntos, frente à opinião pública nacional. Como as Torres Gêmeas, viramos pó com o passar dos dias.

Pois bem, sabe o que acontece em outros locais? As mesmas disputas por poder existem, tal qual como aqui, mas elas são internas e para o mise-en-scene local. Mas, uma vez lá em Brasília, no coração do poder, os esforços para trazer desenvolvimento e riqueza para os estados de origem dos políticos são regra. Tente interromper a instalação de uma montadora de automóveis em Pernambuco ou Bahia para ver o que acontece. Transfira um investimento do Ceará para o Maranhão. Descumpra um contrato com a Paraíba…

Resultado: no Rio Grande do Norte, na vida real, não temos um porto (como Suape, Pecem ou agora o de Paraguaçu, na Bahia, que já conta há 35 anos com o polo industrial de Camaçari), aeroporto, estradas duplicadas (sim, em pleno ano de 2014, nós não temos UMA estrada com pistas duplas no nosso estado), refinarias (sendo o terceiro maior produtor de petróleo do país!), indústria automotiva, siderúrgica (como a gigante que vai surgir no Ceará, ou a que fabrica todo o conjunto de catavendo de eólicas em PE), muito menos uma produção agrícola respeitável.

Quando falo “não temos” é no sentido econômico desses equipamentos serem minimamente interessantes para quem procura um lugar para investir. Raciocine comigo: se sou empresário e preciso produzir com pouco custo, onde vou buscar ambiente propício? Onde existir condições de escoar a produção, capisce! Se preciso de mão de obra treinada e qualificada, onde vou encontrar?

Por outro lado, o prazer de falar mal e não apresentar soluções cai como uma pá de cal sobre tudo.

Amamos essa terra, fazemos de um tudo para não deixá-la ou voltar à ela assim que possível, mas é preciso muito, mas muito cotovelo de aço para abrir caminhos, frentes, convencer os colegas da mesa ao lado que, enquanto não virarmos patriotas verdadeiros, civilistas no sentido da palavra, cobrar de quem de direito que tudo de bom venha e aconteça aqui (e fazermos a nossa parte também), seremos eternamente lanternas, em tudo, de educação a turismo, de geração de empregos a campeonato de futebol.

Os números, sempre eles, que estão sendo revelando agora, para “assombro” de muitos, dando a conhecer que o estado “quebrou”, que a saúde pública entrou em estado de calamidade, que o aeroporto vai ficar pronto e não há uma rodovia ligando-o a nada, que a praia mais famosa ainda é cenário de tsunami, que os grande projetos anunciados nunca vão sair do papel e que o nosso RN sofre feito tábua de bater bife são resultado, única e exclusivamente dessa nossa “patologia” histórica de achar, lá no fundo, que quanto pior melhor.

Pobre RN!

...fonte...
www.canindesoares.com

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