Mujica rejeita título de “presidente mais pobre do mundo”
Para chefe de Estado uruguaio, "pobre é quem precisa muito para viver"
Presidente uruguaio recebe jornalistas em sua propriedade rural nos arredores de Montevidéu |
O presidente do Uruguai, José Mujica, afirmou esta semana à rede
estatal chinesa Xinhua que não concorda com o título que lhe foi
atribuído pela imprensa internacional de “presidente mais pobre do
mundo”, em razão de seu estilo de vida simples.Segundo ele, esse título é
incorreto porque “pobres são aqueles que precisam de muito para
viver”. Sua vida austera tem como objetivo “manter-se livre”.
“Eu não sou pobre. Pobre são aqueles que precisam de muito para viver,
esses são os verdadeiros pobres, eu tenho o suficiente”, afirmou.
“Sou austero, sóbrio, carrego poucas coisas comigo, porque para viver
não preciso muito mais do que tenho. Luto pela liberdade e liberdade é
ter tempo para fazer o que se gosta”, disse o presidente. Ele considera
que o indivíduo não é livre quando trabalha, porque está submetido à
lei da necessidade. “Deve-se trabalhar muito, mas não me venham com
essa história de que a vida é só isso”.
Assim como já fez com outros correspondentes internacionais, Mujica
recebeu a equipe de reportagem chinesa em sua modesta propriedade rural
em Rincón del Cierro, nos arredores de Montevidéu, ao lado dos cães e
galinhas que cria.
Aos 77 anos, Mujica doa 90 % de seu salário de 260.000 pesos uruguaios
(quase 28 mil reais) a instituições de caridade. Não possui cartão de
crédito nem conta bancária. Sua lista de bens em 2012 inclui um terreno
de sua propriedade e dois com os quais conta com 50% de participação,
todos na mesma área rural – diz ter alma de camponês, e se orgulha de
sua plantação de acelgas, e já pensa em voltar a cultivar flores.
Possui dois velhos automóveis dos anos 1980 (entre eles um Fusca com o
qual vai ao trabalho) e três tratores. Segundo o presidente uruguaio,
essa opção de vida surgiu durante os anos em que viveu preso sob duras
condições (1972-1985) em razão de sua atividade de guerrilheiro. Ele
foi membro dos Tupamaros, grupo que lutou contra a ditadura militar.
“Por que cheguei a esse ponto? Porque vivi muitos anos em que, quando
recebia um colchão à noite para dormir, já me dava por contente. Foi
quando passei a valorizar as coisas de maneira diferente”, disse ele
sobre seus tempos de cárcere, quando disse ter conversado com rãs e
formigas para “não enlouquecer”.
Ele afirmou duvidar que a próxima eleição presidencial, marcada para
2014, vá atrapalhar sua gestão, e se diz animado com um projeto pessoal
para quando deixar o Executivo, em março de 2015: “Quando terminar esse
trampo (changa em espanhol, referindo-se à Presidência) que tenho
agora, vou me dedicar a fazer uma escola de trabalhos rurais nesta
região”.
Quando perguntado se após deixar o governo ele tentará acumular
fortuna, ele disse: “Depois terei de gastar tempo para cuidar do
dinheiro e muito mais tempo da minha vida para ver se estou perdendo ou
ganhando. Não, isso não é vida.”
No Opera Mundi
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