O INVEJOSO – DOENTE OU
MALEDICENTE?
*Adalberto Targino
A inveja, semanticamente, é o sentimento de
desgosto, pesar ou tristeza pelo bem dos outros. É a cobiça ou desejo violento
de possuir o bem, a alegria ou felicidade alheia, mesmo que o invejoso os possua
igualmente. A sua mente, insensível e pervertida, deturpa tudo e destila o
veneno do ressentimento, mágoa e dor
profunda...
Numa sociedade competitiva
como a nossa, sobretudo exibicionista, patrimonialista, individualista e até
cruel, o invejoso encontra campo fértil ao desenvolvimento de sua alma
amargurada e insatisfeita.
De fato, no dizer de
Rousseau “o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”, isto é, industrializa
o doente social.
Aliás, especialistas afirmam
que todo invejoso é portador de desvio ou distúrbio de personalidade, capaz de caluniar o ser invejado e
atribuir-lhe vícios infinitos. Pode trair o melhor amigo e obscurecer-lhe
virtudes; destruir reputação de outrem e até mesmo praticar bem
urdidos crimes de calúnia, injúria, difamação,denunciação caluniosa,
fraude, roubo ou homicídio.
Não precisa de motivo para
sentir inveja, porque este sentimento mesquinho é um monstro que a si mesmo se
gera e de si mesmo nasce.
A Bíblia ( Êxodo, 20,17),
admoesta “não cobiçarás cousa alguma que pertença ao teu próximo” e no Salmo 36
“não invejes o que prospera em suas empresas” com “ o teu olhar mau e
desprezível” (Eclesiástico).
O invejoso, procura destruir
o que não pode possuir, desmentir o que não compreende e insultar, detestar e
combater aos que se elevam ou simplesmente vivem em paz e de bem com a vida.
Exemplos emblemáticos de
invejosos perversos, periculosos, cruéis, nefastos e perniciosos foram Caim
que matou o seu irmão Abel ( o primeiro homicídio do planeta) ; Brutus
que apunhalou o seu próprio pai adotivo Júlio César; Judas que entregou Jesus
aos seus carrascos; Nero que com inveja do brilho intelectual do seu professor
Sêneca o condenou a morte; o rei Saul que tentou matar por várias vezes o seu
genro e benfeitor Davi; os irmãos de José do Egito que o venderam como escravo;
O senador romano Catilina que tentou assassinar o Cônsul Marco Túlio Cícero; o
grego Cylon, da Cidade de Croto, que incendiou o Instituto Pitagórico e
expulsou Pitágoras da sua Cidade; e até no Reino Celestial, afirma-se, que
Lúcifer foi expulso, porque, tentou destronar Geová, motivado pela cobiça.
Heródoto, em sua monumental
obra História III, 425 anos antes de Cristo, afirmou “a inveja nasceu no homem
desde o princípio”.
O invejoso é oscilante e
pendular. Tem crises de grandeza e de inferioridade, de egolatria e de
autopiedade, de sadismo e masoquismo. Sua marca registrada é não elogiar
ninguém, exceto a si próprio ou a quem ele possa usar como escada aos seus
propósitos diabólicos. É, em síntese, um renitente e contumaz pecador contra o
segundo maior mandamento da Lei de Deus: “ama
teu próximo como a ti mesmo”. Essa pobre criatura, odeia a felicidade do
próximo e, via de conseqüência, renega a sua própria, corroída pela mesquinharia
e competitividade imaginária.
Vasculha, com interesse
mórbido, a vida alheia, buscando detalhes mínimos da vida profissional e
familiar da pessoa visada, a fim de maldizer o seu sucesso e divulgar as suas
possíveis fraquezas e desacertos.
Aos que ficam felizes com o
sucesso dos outros ou os que sofrem a perseguição dos invejosos, resta um consolo nas palavras sábias de Alcalá
Zamora: “os ataques da inveja são os únicos em que o agressor preferiria, se
pudesse, fazer o papel de vítima”.
Assim, aleluia as pessoas
normais e piedade a essas reles e doentes criaturas injetadas pela toxina
autodestruidora da inveja e do complexo de inferioridade.
* O autor é Advogado Criminalista, ex-Professor
de Ética e membro da Academia Brasileira de Ciências Morais e Políticas
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